O mixoma odontogênico é um tumor benigno com comportamento localmente agressivo, sendo relativamente raro na cavidade bucal.1 Apresenta um crescimento lento, indolor, visto em ossos gnáticos e geralmente é assintomático, podendo atingir grandes proporções.2 É mais comum em adultos jovens, entre a segunda e terceira década de vida, com predileção pela região posterior da mandíbula e sem predileção por sexo.3 Radiograficamente, apresenta aspecto uni ou multilocular, este último exibindo loci ósseos grandes e irregulares que lembram bolhas de sabão, ou pequenos e irregulares, com traves ósseas em ângulos retos.1,4,5 Pode causar o deslocamento ou reabsorção de dentes vizinhos.5 Devido a seu caráter infiltrativo e recidivante, a ressecção marginal é o tratamento mais indicado para o mixoma; porém alguns autores sugerem que pode ser realizada a enucleação e curetagem vigorosa da lesão.1,6 Ainda não há um consenso sobre o melhor tratamento para o Mixoma Odontogênico.7 Diante disto, o presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de Mixoma Odontogênico em região posterior de mandíbula, no qual foi realizado um tratamento conservador.
Paciente do sexo feminino, 23 anos, caucasiana, procurou atendimento no Instituto Valcanaia, relatando que havia realizado uma tomografia médica e que na mesma havia sido observada extensa lesão óssea, até então assintomática. A paciente apresentou uma radiografia panorâmica de 5 anos atrás, onde foi possível observar pequeno halo radiolúcido em torno da coroa do dente 38. Negou comorbidades para cirurgias prévias. Ao exame físico extra-oral não foram observadas alterações e ao exame físico intra-oral, apresentava discreto espessamento da mandíbula. O exame tomográfico revelava uma imagem hipodensa em região posterior de mandíbula à esquerda, extensa, multilocular, sem rompimento das corticais ósseas, envolvendo as raízes dos dentes 36 e 37 e associada ao dente 38 que se encontrava incluso. A lesão apresentava traves ósseas pequenas e regulares, conferindo a imagem de “raquete de tênis”, como é descrito na literatura. As hipóteses de diagnóstico foram ameloblastoma e mixoma odontogênico. Inicialmente foi realizada uma biópsia incisional com diagnóstico histopatológico de Mixoma Odontogênico. Diante do resultado, foram solicitados os exames préoperatórios que se encontravam dentro dos padrões de normalidade. Foi solicitado também, prototipagem da mandíbula para o planejamento cirúrgico. O caso foi discuto com a família e a paciente. Todas as opções de tratamento foram apresentadas, inclusive o risco de recidiva no caso de cirurgia conservadora e necessidade de controle permanente da lesão por um período mínimo de 10 anos, mas com a recomendação de controle vitalício. A paciente optou por não ressecar a área afetada, e tentativa de manutenção da sensibilidade área inervada pelo Nervo Mandibular. Foi realizada uma incisão descendo da proximidade da apófise coronóide até a região distal do dente 38 e contornando os elementos 38, 37, 36 e 35 e relaxante à nível do dente 34, realizando as exodontias dos elementos dentários 36, 37, e 38, ostectomia de toda porção óssea superior que cobria a lesão. Posteriormente, foi feita a enucleação da lesão e ostectomia periférica com broca diamantada números 6 e 8 e complementada com crioterapia a -20° com nitrogênio líquido, seguida de aplicação de formol a 10% em toda a extensão óssea da lesão. Todo trajeto do Nervo Mandibular, foi preservado, exceto pequena área junto a basilar da mandíbula, onde se observou exposição do mesmo, porém com preservação de sua integridade. A cavidade foi preenchida com sangue autólogo e foi colocada uma membrana de polipropileno na região de exodontia dos dentes supracitados para proteção dos alvéolos, e realizada sutura com fio de nylon 4-0.
A peça foi encaminhada para o laboratório de patologia e foi confirmado o diagnóstico de Mixoma Odontogênico. No retorno pós-operatório de 30 dias, a membrana de polipropileno foi removida e a área operada apresentava-se com bom aspecto cicatricial. A paciente apresentou disestesia por 90 dias, voltando a sensibilidade normal. Atualmente a paciente encontra-se em acompanhamento de 3 anos de pós-operatório sem sinais de recidiva e com neoformação óssea da região
O tratamento do Mixoma Odontogênico tem sido descrito e discutido na literatura há tempos. Porém ainda não há um consenso acerca da melhor alternativa de tratamento. Esse estudo relatou um caso de Mixoma Odontogênico em mandíbula, no qual foi realizado um tratamento conservador visando a manutenção das funções do nervo mandibular, em paciente jovem, tendo obtido bons resultados em uma proservação de 3 anos. É de suma importância que cada vez mais exista literatura discutindo e analisando casos, para que sempre cresça o banco de dados de informações relativos a patologias que podem vir a ocorrer no ser humano, para que com isso, sempre possa haver o conhecimento de técnicas e alternativas de tratamentos, visando sempre o bem-estar e saúde do paciente.
Claudia M. Azeredo
Túlio Del Conte Valcanaia
Guilherme T. Pedott
Gustavo N. Martins
Júlia Tramujas